quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O Doentio Caso Dos Irmãos Disformes




- Esta intimação deverá ser entregue neste endereço... – Disse um cidadão de bigode espesso e hálito forte de tabaco e café. 

 Os dois policiais, Ulisses e Gabriel, se dirigiriam então ao endereço dado pela a sua chefia. Um endereço que o experiente policial Ulisses pegou com relutância. Ulisses era um daqueles caras que sempre evitava ameaças, riscos, lugares inescrupulosos. Para você ter uma ideia, em seus vinte e poucos anos de profissão, Ulisses nunca sacou a sua arma, e, obviamente, nunca atirou em ninguém. Conhecia a má reputação daquele endereço e sempre evitava passar por lá. Casos bizarros eram ditos por populares, tanto transeuntes como próprios moradores da área. Seres estranhos rodeavam a extensa viela de aproximadamente duzentos metros. Os mais supersticiosos diziam que os seres eram criaturas de outro mundo. Seres completamente estranhos e macabros. Possuíam os olhos ardentes como uma chama e suas cabeças eram idênticas a óvnis. Já os sensatos diziam que eram apenas sádicos e estupradores; possuidores de máscaras, que o que a viela precisava era de uma ronda diária de guarnição policial.

Ulisses contava tudo aquilo, com receio ao jovem Gabriel, novato e sedento a ação.

 - O que na verdade você teme, Ulisses? – Perguntou o policial Gabriel.

- Pode ser um conto popular – Disse Ulisses conduzindo a viatura policial e se dirigindo ao local ordenado pelo o chefe. – mas as mortes são verdadeiras. Tenho uma tia que mora naquela viela, cara. E ela afirma já ter visto várias vezes dois seres, um com a cabeça de porco e outro com feição de sapo, rondarem as ruazinhas de madrugada, provavelmente procurando vítimas.

 - Ora essa. – Disse Gabriel. – Quantos anos têm a sua tia?

- Isso é irrelevante dizer. O que é mais importante neste momento, meu caro, é que vamos bater na casa onde estes dois seres foram vistos, pois aconteceu mais um crime na viela na noite passada e vítimas afirmam dizer severamente que estes dois anormais vieram de lá.

 - Bom, mas quem mora na casa?

- Um idoso ranzinza demasiado misantropo. Dizem ser o mais antigo vizinho do beco. Depois que sua mulher e seu filho faleceram, de tuberculose, o velho se enclausurou com a sua filha mais nova em sua casa de uma tal forma, que poucos o viam. Anos mais tarde, foi á vez de sua filha, na época com vinte e cinco anos, vir a morrer.  A solidão, às vezes, esmiúça até mesmo um eremita, meu caro. Apelamos até para a maldade para não ficarmos só.

- O que você quer dizer com isto Ulisses? – Disse o jovem policial mostrando interesse pela a conversa.

- Nada, meu caro. Eu só quero minha aposentadoria, nada mais que isso. Só me faltam dois meses.

- Fale-me. Você tem algo em mente. Compartilhe.

- Não é nada. Só posso lhe afirmar que não estamos sozinhos nesta terra. – O jovem policial franziu o sobrolho bastante admirado. – Você, se estuda um pouco a antiguidade, há de convir que os homens adoravam seres completamente esdrúxulos, principalmente os egípcios. As esculturas em pedras são uma prova disso, bem como as artes desenhadas em grandes rochas. Lá podemos ver vários seres com um formato diferente. Homens com cabeça de lobo, metade homem metade cavalo. Enfim, várias deformações, e os homens os tratavam como deuses. Sim, Gabriel; aquele velho doente adora essas imagens e, de alguma forma, lhes deu vida.

 Gabriel lhe olhou de soslaio, muito desconfiado, e disse:

- Bela historia, Ulisses. Você quase me convenceu.

- Não seja sarcástico.

- Não estou sendo, amigo. Você realmente precisa se aposentar. – Disse o jovem sorrindo.

- Bom, é aqui. – Disse Ulisses parando o carro.

Os dois desceram e bateram na casa do senil idoso.

Não foram recepcionados. “Era de se prever”, disse Ulisses.

- Senhor, temos ordem de entrar em sua residência nem que seja a força. Por favor, colabore.

Quando os dois se programavam para derrubar aquela porta, ela se abriu lentamente causando um ruído agonizante. Os dois entraram cautelosamente. Ulisses mantinha sua arma em sua cintura, já o jovem Gabriel já havia sacado a sua.

- Guarde isso, seu imbecil. – Disse Ulisses furiosamente.

- Senhor, podemos conversar? – Disse Ulisses alterando a voz.

Mais uma porta se abriu, dessa a vez do segundo andar da casa. Os dois subiram e, enfim, encontraram o velho sentado em uma cadeira de rodas e em avançado estado de decrepitude. Uma luz fraca iluminava malmente o quarto lúgubre.

- Entrem. – Disse este.

Continuou...

- Queiram me desculpar por não ter ido lhes recepcionar, é que realmente não houve tempo suficiente. Porém lhes respondi. Ouviram-me?

- Não senhor! – Disse Gabriel.

- A minha voz já não é mais como antes! Mas digam-me, que privilégio de visita é esta, podem me dizer?

- Senhor, o senhor mora só? – Perguntou Ulisses.

- Praticamente.

- Ok, senhor. Tente colaborar com a gente. Na noite passada ocorreu um crime hediondo perto de sua localidade. Um homem teve a sua cabeça devorada. Peritos alegaram que a sua cabeça foi degolada por dentes. Um enorme animal o devorou.

- Bom, mas o que eu tenho a ver com isso, meu jovem? Você está me assustando.

- Testemunhas alegaram veementemente que o animal pulou o muro de seu quintal, e que logo depois sumiu.

- Meu quintal é sempre alvo de peraltas, senhor.

 - Sei, senhor, mas acontece que não é a primeira vez que eles pulam para o seu quintal. Os vizinhos acreditam que o senhor lhes dá moradia. Ter animais nocivos é crime.

Os olhos do velho se ruborizaram e suas veias pareciam que iam espocar.

 - Como ousa chama-los de animais, seu imundo! Lave a boca para falar de meus filhos.

- O QUÊ?

O ser de feição de sapo, então, surgiu e soltou uma gosma verde de sua boca em cima do jovem Gabriel que aos poucos foi se derretendo. Aquela gosma ácida aguou o pobre rapaz. Ulisses ficou petrificado com a cena. Surgiu, então, o seu irmão com a sua feição de porco.

- Suponho que esteja muito admirado, né soldado! Sim, com certeza. Ah, aquela vadia. Não era para ter terminado assim. Juro para você que não. Uma mãe jamais deve negar o seu filho, independente de como seja, concorda comigo soldado? – Ulisses meneou sua cabeça. – O primeiro a sair foi o Jimme, que os insensatos chamam diabolicamente de feição de porco. Depois veio o Jenny, o feição de sapo. Eu mesmo fiz o parto. Quando ela os viu, a maldita gritou como uma louca: “MONSTROS, MONSTROS, SÃO TODOS MONSTROS, MEU DEUS”. As crianças indefesas apenas choravam. Como pode uma mãe odiar um filho do modo como ela odiou! Com a mesma navalha que usei para tirar meus meninos daquela bruxa, enfiei no pescoço dela fazendo espirrar sangue sujo nos meus bebês. Ela serviu de alimento para eles. Em vez de leite, ela lhes deu sangue. As crianças lambiam aquele sangue imundo de suas mãos e do chão. Chupavam avidamente. E até hoje eles adoram o sangue. É o alimento deles.

- De quem você está falando? – Perguntou Ulisses, agoniado.

- De minha filha, soldadinho.

 Ulisses, que nunca havia sacado a sua arma antes, desferiu apenas um tiro no coração do velho lúcido.

As crianças, de fruto incestuoso, choravam pela a morte do amado e diabólico pai. Ulisses não teve coragem de atirar nas crianças. Pareciam indefesas lamentando a morte do pai satânico.


Por Patrik Santos

sábado, 26 de outubro de 2013

A Mulher Perfeita




E é com um estilete bem afiado que Eliot remove aquela pele macia, aquele rosto que por tantas vezes enlouqueceu, enamorou homens de todas as classes sociais. Eliot finca o objeto pontiagudo na cabeça de Rose, mulher de beleza natural, a mais linda da sociedade medieval, e dividi, separa aquela face, corta meticulosamente fazendo espirrar sangue por sua bata. Aquela face, antes feliz, orgulhosa por sua beleza, se torna frígida, perde-se a sua expressão, porém a sua beleza continua intacta. Eliot precisa apenas daquela fina camada, Eliot quer apenas a sua face. O resto Eliot jogará no rio de cor rubra. Não lhe interessa. O resto ele trata como um lixo.

As pernas detalhadamente torneadas de Margareth sempre hipnotizaram o contemplador de beleza Eliot. Porém aquela beleza lhe era única. Eliot só tinha olhos para aquelas pernas. Brilhavam, encantavam. Para retirar aquelas lindas pernas de Margareth, Eliot afiou um facão por semanas. Ela deveria estar bem afiada, pois só precisava de um golpe. Aquele golpe teria de ser um pouco acima da cintura, com exatidão em cima de seu umbigo, onde os ossos são mais frágeis, mais simples de se partirem. Aquele golpe dividiria Margareth em dois. O que Eliot precisava era apenas de suas pernas, e nada mais. Pare ele, o resto era lixo. Partiu-a. Com uma pequena serra, Eliot excluiu aquele sexo feminino e também lhe joga no rio. Detalhou as pernas e o guardou junto com a camada fina da face de Rose.

Os seios rosados de Julie eram excitantes. Mamilos perfeitos. Na verdade Eliot se apaixonou por quase tudo de Julie. Seus cabelos, seus braços, sua barriga e suas nádegas. Eliot desferiu um golpe tão forte na cabeça de Julie, que esta caiu desfalecida no chão úmido de sangue. Cortou os pulsos e puxou a pele de Julie. Eliot teve muito trabalho com esta. Precisava de toda esta região e lhe foi puxando sem descascar. Assim como se tira um coro de animal, assim Eliot puxou a pele da moça. A macabra cena foi encerrada com um golpe de facão na têmpora da moça. Eliot, como dito antes, precisava dos cabelos de Julie. Assim, o coro cabeludo foi retirado, e Eliot jogou o resto no rio, pois nada mais lhe aprazia.

Eliot adorou a filha do reverendo, e sabia, indubitavelmente, que a moça era virgem. Precisava daquela vagina. Eliot não teve tanto trabalho assim: perfurou com uma enorme agulha aquela cavidade e lhe tirou cuidadosamente, sem lhe corromper. Pronto! Eliot tinha aquela pureza em suas mãos.

Estava quase tudo pronto. Ninguém diria que aquele ser estava remendado. Era uma beleza sem igual, a mulher mais perfeita já feita, só lhe faltava uma vida. Mas para se ter uma vida, precisa-se de um coração e 
Eliot não encontrou este perfeito coração. E Eliot havia se esquecido deste pequeno, e ao mesmo tempo, grande detalhe.

Infelizmente Eliot não encontrou aquele coração, porém o procurou até os últimos momentos de sua vida, pois sabia que existia.

Por Patrik Santos