quinta-feira, 11 de julho de 2013

Espíritos Martirizados



São poucas as coisas que me lembro durante o tempo em que eu vivi naquela casa, pois eu tinha apenas sete anos de idade.

Tudo o que vou contar aqui são fatos reais que aconteceram há quinze anos atrás. Os relatos foram de minha família, principalmente do meu pai que era um cético perante o sobrenatural.

Chegamos naquele prédio numa tarde bem linda. De princípio nós nos mudaríamos para o Ap 104, mas como o antigo morador, de nome Álvaro, pediu ao síndico para que se mudasse para o 104, alegando que no Ap 105 o sol da tarde invadira o seu quarto e deixava como um inferno, o síndico prontamente assentiu com o pedido do morador que morava há bastante tempo naquele apartamento e que nunca causava problema nenhum e nunca havia se tornado um inadimplente.

O apartamento era lindo e, no entanto, o sol não causava tanto calor assim como aquele homem dizia.

 Para a nossa sorte, naquele dia de mudança fomos convidados pelos os moradores do segundo andar para uma festinha de aniversário. Meu pai não queria ir, mas de tanto eu e minha irmã, de oito anos, insistirmos, ele acabou cedendo.

Na festa, havia um garotinho fitando meu pai com uns olhos vermelhos de fúria. De repente ele começou a chamar meu pai para segui-lo. Parecia estar bastante preocupado com alguma coisa. Meu pai o seguiu. Saindo da festa, meu pai seguiu aquele menino que o chamava através de acenos desarticulados. O menino corria feito um louco.
Para a surpresa do meu pai, aquele menino entrou em nosso apartamento. “Impossível!” Disse meu pai. “Eu tranquei a porta.”
Entrando na casa, meu pai não achou o menino. Ele havia sumido. Procurou-o por todos os lados e não o encontrou.
De repente ouviu vozes de crianças vindas de seu quarto. Abriu a porta e percebeu que as vozes vinham do seu guarda roupa. Na verdade detrás dele. Estava a tremer de medo. Arredou o guarda roupa sorrateiramente e, com isso, as vozes pararam de falar.
“Devem ser os vizinhos”, disse. “Mas e o garoto?” Perguntou-se. “Onde ele está!”
Novamente as vozes. E agora o alarido ocupava cada compartimento da casa. Meu pai ficou branco como um algodão. Arredou novamente o guarda roupa e uma voz feminina lhe disse o seguinte: “AJUDE-NOS”.

Meu pai caiu para trás.

Não contou nada para a minha mãe no dia seguinte. Achou que aquilo não passava de um sonho; demasiado lúcido por sinal.

Certo dia, minha mãe estava só em casa. Eu e minha irmã estávamos no colégio. Meu pai no trabalho. Sentindo-se só, minha mãe ligou a Tv para relaxar um pouco, quando ouviu vozes que vinham da cozinha. Pareciam pessoas conversando. Ficou paralisada. De repente acordou da vertigem.  Entretanto, as vozes continuavam a conversar. Eram vozes ininteligíveis. Tomou coragem e foi averiguar o que estava acontecendo em sua cozinha. Chegando lá, encontrou a cozinha totalmente escura e a mesa coberta por uma toalha preta com três velas vermelhas, sete dias sete noites, acessas. Desmaiou.

Quando o meu pai chegou mais tarde, ela o contou tudo, mas este, cético, não acreditou em nenhuma palavra dela.

Á noite, novamente minha mãe se espantou. Dessa vez ouviu barulho de lousas. Parecia que alguém estava lavando elas. Foi até a cozinha e quando chegou lá, viu uma mulher com trajes de empregada doméstica lavando a sua lousa. Minha mãe fechou os olhos e deu um berro. Quando abriu os olhos, a moça havia sumido. No dia seguinte ligou para a sua mãe que lhe consolou dizendo que essas coisas são normais, pois quando alguém se apega muito a vida, e não aceita estar morto, ela sempre volta para acabar com os seus afazeres.

Na casa do nosso vizinho todos os dias escutávamos barulhos de objetos sendo quebrados. Briga de casal, dizíamos. Mas acontece que os gritos eram bem perturbadores mesmo.

Um dia meu pai chegou muito estranho em casa. Estava pálido. Nem disse bom dia a minha mãe. Entrou no banheiro e não saiu mais. Minha mãe, percebendo que ele demorava a sair, abriu o banheiro e só viu um gato preto sair de lá. Não era ninguém. Meu suposto pai havia sumido.

Numa noite, meu pai tentou se levantar para ir ao banheiro, porém não conseguia. Estava paralisado. Apenas seus olhos se moviam. Enfim percebeu que estava deitado de peito para cima. Sempre que dormia daquele jeito ele tinha pesadelos assombrosos, pois seu avô dizia que um demônio gostava de sentar na barriga de quem dormia assim; portanto era ele o causador dos pesadelos.
Ele tentava se mexer, mas não conseguia. “Será que estou sonhando?”, dizia-se. De repente ele começou a afundar em seu colchão. Ia descendo igual a uma areia movediça. Quando ele fechou os olhos, tudo voltou ao normal. Mas ao tentar firmar seus pés no chão, não conseguiu. Olhou para o chão e enxergou uma espécie de neblina, e nela havia várias mãos tentando lhe puxar para baixo. Provavelmente para o submundo.
Acordou no dia seguinte sem saber que se de fato aquilo tinha acontecido.

Na noite seguinte, aconteceu outro caso temeroso com meu pai:

Meu pai estava dormindo de bruços, para evitar pesadelos. De repente sentiu a cama se abaixar um pouco. Parecia que um leve peso havia se posto na cama. Logo começou a ouvir um suspiro de criança. De princípio, meu pai achava que era eu vindo se deitar em sua cama. Mas não era.

Era uma noite tempestuosa.
Meu pai disse bem baixo:

- Volte para a cama, filho. São apenas relâmpagos. Logo, logo vai passar.

Ele não obteve resposta, e de repente a criança começou a chorar.

- Volte para a cama e tente dormir, meu filho! – Disse novamente.

Sem respostas.

Levantou-se e olhou para aquela criança, mas não viu seu rosto, pois a escuridão predominava o quarto. Viu que o menino chorava sentado bem na beira da sua cama.

- Que foi filho? Volte para a cama. Logo passam esses malditos raios. – Disse ele em um tom solene.

A criança, então, soltou um grito assustador bem na hora em que um trovão iluminou todo o seu quarto. Quando viu o rosto daquela criança, por intermédio do raio dado, percebeu que era a mesma criança que o seguiu naquele primeiro dia em que fizemos a nossa mudança. Novamente a escuridão predominou o quarto, mas logo veio outro raio, e quando este foi dado, à criança já não estava mais sentada em sua cama. Havia sumido.




Á umas três semanas após a nossa chegada naquela casa, o vizinho, que havia trocado o seu Ap com a gente, cometeu um suicídio em seu Ap. Ficamos chocados com aquilo. Lembro-me vagamente disto. A família do homem, composta por sua esposa e um casal de filhos, estava viajando há quase um mês; logo saberão que não era bem isso.

Imagine você acordar de madrugada com a sua casa tremendo! Isso aconteceu com a gente. Meus pais foram cambaleando para o meu quarto. “O quê está acontecendo meu Deus?”, berrava a minha mãe. De repente vieram sons de pratos, xícaras e outros objetos se quebrando ao chão. Meus pais foram para a sala, com eu e minha irmã, todos nós de mãos dadas. Sentimos mãos demasiadas frias nos apalpar. A casa tremia literalmente, assim como um terremoto. Gritos de dor, desespero e agonia também estavam mesclados neste episódio aterrorizador. Choramos três dias, eu e minha mana, sem parar. Meu pai resolveu se mudar daquela casa imediatamente, porém o síndico nos instigou mais cinco dias, pois alguns documentos, que estranhamente foram extraviados, e que eram de extrema relevância, eram precisos para a nossa mudança.

Um dia, o piso da sala começou a ceder. Meu pai começou a puxar uma viga de madeira que já estava um pouco inclinada. Tirou uma, duas, primeiramente por curiosidade. Tirou outra e percebeu que alguma coisa estava errada. Sentiu um odor repugnante mesclado com um perfume bastante forte e mais algumas bolinhas de naftalinas. Depois viu um livro grosso com folhas amareladas que constatando, percebeu que era a Bíblia sagrada. O que fazia debaixo de um piso removível? Talvez fosse uma forma de abençoar a casa. Fanáticos religiosos usam cada meio para se livrarem dos maus espíritos. Pegou a bíblia com desconfiança e começou a folhear. Uma pagina estava marcada com um marcador de livro. Era no livro de Thiago e estava sublinhados em ênfase o capitulo 1 e versículo 15.

Assim está escrito:

Então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.
Tiago 1:15

Leu o texto e disse um tímido “Amém”. Puxando a quarta viga de madeira, viu um tecido que enrolava um objeto volumoso. Tentou puxar, mas o objeto era bem pesado. Tirou a quinta viga de madeira para facilitar a remoção do estranho objeto. O odor era bastante desagradável. Meu pai chamou minha mãe para ajuda-lo na remoção daquele fedorento entulho. Ambos estavam curiosos e aflitos. Puxaram com bastante força. O cheiro enjoativo fez minha mãe vomitar inesperadamente. Piorou quando viu que a sua mão estava infestada de tapurus, aquele inseto que se encontra facilmente em coisas podres. Na mão do meu pai também se encontravam essas larvas asquerosas.

Quando a minha mãe foi lavar as suas mãos com o álcool, ouviu o berro do meu pai dizendo:

- LIGA PRA POLÍCIA IMEDIATAMENTE!

Assustada, minha mãe correu para a sala para ver o que estava acontecendo.

 Chegando na sala, viu meu pai consternado e de joelhos no chão. Aquele pacote com um odor insuportável eram os corpos da família do homem que cometeu o suicídio. Jazia ali os filhos e a esposa do covarde senhor Álvaro, antigo morador de nosso apartamento. Matou-os por saber que sua esposa o traía com o seu melhor amigo.

Novamente meu pai leu o trecho da bíblia:


Então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.
Tiago 1:15



Por Patrik Santos

Nenhum comentário:

Postar um comentário