terça-feira, 2 de julho de 2013

Minha Gerada Paixão



Seus olhos refletiam um desejo inaudito que eu jamais poderei explicar. Talvez tenha sido seu sangue fervescente que pelo faro eu achei, afinal sou um ser completamente esdrúxulo. E ela se tornaria assim como eu por mera, ou talvez, por insana predestinação. E foi aquele olhar frio, quase sem vida, assim como o meu, assim como sou, que me chamou atenção. Aproximei-me furtivamente dela, e ela nem se deu conta de que surgi quase que como um espectro em seu lado. Segurei sua mão e ela sentiu algo frio, úmido lhe apalpar. Tentou me repelir, mas quando viu meus olhos fixando-a macabramente, se fez submissa e se entregou ao seu bel prazer. Ela estava cheia da monotonia dos mesmos rostos de sempre. Ela queria algo novo. Inovador. E achou-me.

O som estava ensurdecedor naquela boate dos anjos diabólicos. A banda tocava algo que eu jamais havia ouvido antes. A guitarra, ligada ao pedal de apenas um som de efeito metálico, berrava feito uma mãe ao ver seu filho se entalar com uma espinha de peixe. O baixo irritava até mesmo um ser em sua plena inconsciência devido estar ebriamente revestido de comprimidos e seringadas para lhe causar viagens alucinógenas. A bateria foi o ápice de minha tolerância. Batia desarticuladamente e fez-me se afastar e me desorientar. Mas bem no fundo eu estava adorando aquilo. Foi ao me afastar que eu a observei-a. Após tocar-lhe, como a pouco disse incisivamente, nossos opostos, de súbito, se atraíram. Foi muito fácil tirar-lhe daquele pseudo inferno para lhe levar ao, sem soma de dúvida, verdadeiro inferno.

Levei-a á meu habitat, lugar de lúgubre e perversa visão. Ela sentiu-se em casa. Foi se acamando e eu apenas a observando. Foi quando ela proferiu aquela frase que reverberou meus olhos rubros: “Deixe-me roxa de tanto me comer”. Não suportei aquela afronta. Parti para cima daquele corpo em chamas e ao sentir aquele fervor, deletei-me de suor e prazer. Disse-me enquanto eu a experimentava: “Você tem uma cara de maníaco psicopata. Tipo aqueles que seduzem e matam.” Fixei meus olhos em seus seios e ela continuou dizendo: “Por que você não sorri? Vou acabar acreditando que és, de fato, um psicopata.” Meus olhos se direcionavam agora para seu pescoço. Em estase, disse-lhe francamente: “Não sorrio, pois quando sorrio meus dentes se retraem e caem.” Ela sorriu euforicamente e eu a possui como jamais havia possuído outra. Finquei, então, meus afiados dentes naquele pescoço lindo e suculento. Seu sangue escorria fluindo para seus fartos e arredondados seios apetitosos. Minha língua deslizava por ela para deliciar aquele líquido que venero e suplico. Cada gota é demasiada importante, pois apenas uma pode salvar um ser indiferente como eu.

Senti o seu corpo se contorcer, foi então que peguei uma vela e lhe pinguei aquela cera quente por todo o seu corpo. Aquele ritual macabro, asseguro-lhes, foi mais fantástico do que um orgasmo. Seu corpo ficou enrijecido e, de súbito, frio como o meu.

Acordei seminu e não a vi. Quando olhei para o alto, vi-a pendurada de cabeça para baixo completamente nua. Criei-la. Ela seria a minha esposa, a rainha do mal. Dormíamos juntos em um caixão. Fazíamos amor ali mesmo, naquele claustro.

Tivemos noites maravilhosas. Porém elas foram ficando escassas. Sua presença foi se tornando fugaz a cada noite. Esqueci-me de alimenta-la. Era isso. Ela saia todas as noites para se fartar. Se eu fosse um cara mais vidrado em notícias, eu teria percebido tudo. Começamos a trazer indivíduos que curtiam uma transa a três. Foi o nosso meio de sobrevivência. Um dia era um sexo feminino, outro dia um masculino. Certo dia matei um antes mesmo de devora-lo. Senti um desgraçado ciúme por ela. Enterrei minha espada em seu pescoço que por muito pouco quase acertara a minha rainha. Desde aquele episódio, ela tornou-se indiferente comigo. Acordei com muita intuição certo dia. Minha intuição não falhara, pois me surpreendi segurando uma estaca que estava para se adentrar em meu escuro coração. Era ela que tentara me enfiar aquele instrumento. Puxei-a violentamente e fizemos amor á noite toda.

Ela sentia uma fome muito fora do normal. Começou a atacar perversamente inúmeras pessoas, até mesmo as que eu muito estimava. Sua força era descomunal. Assim como a sua sensualidade. Tinha o dom de enfeitiçar qualquer um com seu corpo demasiado atraente. Seus olhos encantavam o espirito e seu corpo excitava até mesmo um impotente.

Muito me aprazia o seu sexo. Tinha o cheiro do mal.

O que eu não sabia, e que jamais poderia imaginar, era que aquela formosura tinha uma paixão incógnita. Ela jamais havia partilhado aquilo comigo. Pegou-me de surpresa quando eu a vi com ele em meu caixão fazendo sexo. Apesar de eu ser este ser monstrengo, tenho sentimentos. Meu coração é morto, mas minha alma, apesar de estar sentenciada, ainda vive e move-se em mim. Descobri, com o tempo, que aquele sujeito era o seu amor, seu esposo, quando esta ainda era viva. Voltando a traição, que eu flagrara, imediatamente enterrei uma estaca no peito daquele sujeito. Ele morreu ali mesmo, ao lado dela. Segurei a mão da minha rainha, e ela pôde ver nos meus olhos toda a segurança e magia de um verdadeiro amor. Depois daquele funesto dia, vivemos felizes para sempre. Literalmente.


Para  A.P

Por Patrik Santos

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