domingo, 27 de abril de 2014

Pesadelos De Uma Família



Seu Francisco sempre acordava na madrugada para urinar. Era algo sagrado para ele. Odiava.  Às vezes nem sentia vontade, mas a paranoia o levava. Acordou e a sua interjeição foi: Tsc!
Ao tentar se levantar, não conseguiu. Estava completamente paralisado. Apenas seus olhos se moviam. Tentou de toda a forma se locomover. Ficou ali quase 10 minutos. Sem sucesso. Tentava chutar sua esposa para chama-la atenção, gritar, bater na cama, e nada. Apercebeu-se que estava deitado de peito para cima. Aquela posição sempre lhe proporcionava pesadelos pavorosos daqueles de assombrar o coração. E algumas reminiscências lhe vieram em mente. Lembrava em ter lido um livro que esclarecia o porquê dos pesadelos ao dormir de peito para cima. O que mais lhe chamou a atenção foi à história de um demônio que gostava de sentar na barriga de seres humanos ímpios. Apenas os ímpios eram suscetíveis a ele. E somente quando se dormia de barriga para cima. Francisco era um ímpio, porém não acreditava na palavra, literalmente. Apenas como cruel e desumano e isso ele não era. Sem poder movimentar-se, Francisco continuava sua luta em busca de movimentos. De repente sentiu seu corpo se afundar naquele colchão. Seu Francisco foi afundando, afundando , via a distância que ia se mantendo das abóbadas cada vez mais. Estava a dois metros de profundidade. Seu Francisco ainda se encontrava imóvel. Foi subindo lentamente, parecia que tudo iria se normalizar e conseguiria se acordar daquele maldito pesadelo, mas não foi o que aconteceu. Seu Francisco agora foi subindo até se encostar no teto. Alguma força o levantava tão violentamente que parecia que o iria lhe esmagar. Aquilo lhe apertou com muita força na abóbada, Francisco, berrava por ajuda inutilmente. Foi descendo lentamente e dessa vez se normalizou, mas continuava imóvel na cama. Tentava de toda maneira se mover. De tanto insistir, conseguiu mover os dedos do pé. Depois foram os dedos da mão. Depois a cabeça e finalmente conseguiu se mover-se por inteiro. E, afinal de contas, não sabia se estava acordado ou se estava dormindo, só tinha a plena certeza que estava completamente lúcido daquilo.
Tentou por os pés no chão, mas não sentiu firma-los. Sentiu uma certa profundidade no piso. Olhou e viu uma neblina rodeando sua cama. Olhou para a sua esposa e a viu dormindo de boca aberta e soltando roncos para lá de perturbadores. Aturdido, começou a chama-la, puxa-la, xinga-la e não obteve resposta.
Fixando seus olhos na neblina, enxergou várias mãos humanas chamando-o para o além. Suspiros agonizantes lhe convidavam para mergulhar no provável inferno que o aclamava.

Finalmente acordou.

Por Patrik Santos

Nenhum comentário:

Postar um comentário