Seu Francisco sempre acordava na madrugada para urinar. Era
algo sagrado para ele. Odiava. Às vezes
nem sentia vontade, mas a paranoia o levava. Acordou e a sua interjeição foi:
Tsc!
Ao tentar se levantar, não conseguiu. Estava completamente
paralisado. Apenas seus olhos se moviam. Tentou de toda a forma se locomover.
Ficou ali quase 10 minutos. Sem sucesso. Tentava chutar sua esposa para
chama-la atenção, gritar, bater na cama, e nada. Apercebeu-se que estava deitado
de peito para cima. Aquela posição sempre lhe proporcionava pesadelos pavorosos
daqueles de assombrar o coração. E algumas reminiscências lhe vieram em mente.
Lembrava em ter lido um livro que esclarecia o porquê dos pesadelos ao dormir
de peito para cima. O que mais lhe chamou a atenção foi à história de um
demônio que gostava de sentar na barriga de seres humanos ímpios. Apenas os
ímpios eram suscetíveis a ele. E somente quando se dormia de barriga para cima.
Francisco era um ímpio, porém não acreditava na palavra, literalmente. Apenas
como cruel e desumano e isso ele não era. Sem poder movimentar-se, Francisco continuava
sua luta em busca de movimentos. De repente sentiu seu corpo se afundar naquele
colchão. Seu Francisco foi afundando, afundando , via a distância que ia se
mantendo das abóbadas cada vez mais. Estava a dois metros de profundidade. Seu
Francisco ainda se encontrava imóvel. Foi subindo lentamente, parecia que tudo
iria se normalizar e conseguiria se acordar daquele maldito pesadelo, mas não
foi o que aconteceu. Seu Francisco agora foi subindo até se encostar no teto.
Alguma força o levantava tão violentamente que parecia que o iria lhe esmagar.
Aquilo lhe apertou com muita força na abóbada, Francisco, berrava por ajuda
inutilmente. Foi descendo lentamente e dessa vez se normalizou, mas continuava
imóvel na cama. Tentava de toda maneira se mover. De tanto insistir, conseguiu
mover os dedos do pé. Depois foram os dedos da mão. Depois a cabeça e
finalmente conseguiu se mover-se por inteiro. E, afinal de contas, não sabia se
estava acordado ou se estava dormindo, só tinha a plena certeza que estava
completamente lúcido daquilo.
Tentou por os pés no chão, mas não sentiu firma-los. Sentiu
uma certa profundidade no piso. Olhou e viu uma neblina rodeando sua cama. Olhou
para a sua esposa e a viu dormindo de boca aberta e soltando roncos para lá de
perturbadores. Aturdido, começou a chama-la, puxa-la, xinga-la e não obteve
resposta.
Fixando seus olhos na neblina, enxergou várias mãos humanas
chamando-o para o além. Suspiros agonizantes lhe convidavam para mergulhar no
provável inferno que o aclamava.
Finalmente acordou.
Por Patrik Santos
Por Patrik Santos
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