quarta-feira, 3 de abril de 2013

A Viela



Era uma noite chuvosa e fria. Os pingos da chuva fustigavam meu guarda chuva com uma violência arrebatadora. Eu estava ensopado e louco para chegar em casa.

 Foi quando eu decidi pegar um atalho por uma viela que eu nunca havia pisado antes. Confesso que sentia medo de passar por ela. Muitos me diziam coisas absurdas sobre aquela ruazinha. Mas, em agonizante vontade de chegar em casa e me aquecer na lareira, naquele dia eu ignorei qualquer fato que me disseram a seu respeito.

Peguei-a sem relutância.

Segui em passos acelerados, porém trôpegos, pois o frio intenso quase congelara o meu pé esquerdo. Eu seguia e olhava para trás. Os ratos se locomoviam hereticamente para lá e para cá. Pareciam assustados com alguma coisa.
 Foi quando eu vi uma velha, suja e imunda, sentada no lado de uma lata de lixo comendo algo que acabara de apanhar.

Passei rente a ela, porém nem sequer a olhei, pois não queria ser incomodado por uma indigente, ainda mais com a chuva que me importunava. Com uma voz metálica, ela me pediu um pedaço de pão e alguma coisa quente. Não a respondi e segui no meu trajeto. Pediu-me o paletó para lhe aquecer. Neguei-a. pediu-me dinheiro. Ignorei-a.

 Enfim ela me deixou em paz.

A viela parecia não ter fim.

Agora, em minha direção, vinha um homem jovem com uma aparência rústica e ignorante. Perguntou o meu nome e se eu tinha filhos. Não respondi. Permaneci calado assim como ficara com a velha mendiga.

Prestes a chegar ao ocaso da viela, uma criança, possuindo suas vestes rasgadas, pediu-me solenemente meu guarda chuva para proteger sua mãe que se encontrava enferma e deitada sobre um jornal e um papelão. Disse-lhe para encher o saco de outro, pois eu já me encontrava esgotado.

No dia seguinte, acordei meio atordoado e sem saber onde estava. Recuperando minha energia e consciência, cheguei à conclusão que estava em um hospital. Rapidamente coloquei minha mão no bolso e certifiquei-me de que meus pertences ainda estavam no mesmo lugar.

Ao surgir uma enfermeira, perguntei: qual a razão de eu estar aqu?i Ela olhou-me firmemente nos olhos e alegou:

- Na noite passada, você estava com princípio de hipotermia, porém; uma senhora, um homem, que lhe trouxe nos braços, uma criança, que pedia ajuda, pois a sua mãe estava com tuberculose, lhes trouxeram até aqui e lhe estimaram melhoras.

Por: Patrik Silva










5 comentários:

  1. Muito obrigado, Bianca.
    Comentários e críticas construtivas só nos engrandecem.
    Beijos

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  2. nossa chocante!!!!é de quem menos se espera né!!!!

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  3. Verdade.
    Ás vezes julgamos pessoas e lugares sem de fato os conhecer profundamente.
    Brigado pela visita. Volte sempre, Tatiana.

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  4. muito linda a historia,as vezes fazemos exatamente isso,julgamos
    sem nem sequer olhar verdadeiramente a situação.

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