segunda-feira, 10 de junho de 2013

Alguém no Sótão



 A cegueira me atacou quando eu tinha aproximadamente 33 anos. Foram nos meados dos anos 90.

A minha deficiência visual, não obstante, não era uma cegueira total. Eu tinha uma pequena percepção da luz. Mas infelizmente meu médico me alegou que eu a perderia também durante o tempo.
Eu sentia incomodar a minha esposa. Ela já não era mais a mesma comigo. Nós não tínhamos nem um ano de casados e já brigávamos como se tivéssemos dez.

Em minha casa, eu comecei a enxergar vultos passando de um lado para o outro. Logo de princípio achei que estava ficando louco, mas acreditem; eu não estava louco. Eu estava em minha plena consciência do que via e ouvia.

No sótão, havia um constante ruído que me arrepiava.  E não, não eram ratos. Eu sempre o escutava após enxergar os vultos que me alucinavam. Minha esposa, no entanto, não ouvia e nem enxergava nada. Dizia que era algo da minha cabeça.

Mas havia. Eu sei que havia.

Eu já estava ficando paranoico com aquilo. Á noite, deitado em minha cama, eu os via passando de um lado para o outro. Não queria acordar minha esposa. Ela não poderia ser cumplice da minha possível loucura. Após enxergar aqueles vultos, eu ouvia novamente os  sons terríveis vindo do sótão. Era algo aterrorizador. A única coisa que me restava a fazer era tapar os ouvidos para não escutar aqueles sons sombrios.

Na manhã seguinte eu contava a minha esposa. Ela me olhava com desconfiança e dizia que iria me levar a uma clínica psiquiátrica. Ela achava que eu estava enlouquecendo. Talvez. Mas novamente afirmo que não estava. Aceitei ir para provar a ela que não estava.

Na clínica, fui dispensado pelo o psiquiatra. Ele recomendou-me dormir mais e parar de fixar meus olhos na luz, coisa que de fato eu fazia. Disse-me também para procurar uma igreja, pois a nossa alma também precisa de conselhos. Disse a ele que pensaria no caso.

Em casa, novamente eu via os vultos e sucessivamente os ruídos vindos do sótão.

Sim, eu precisava ir a uma igreja conversar com um padre ou alguma pessoa santa.

Fui a uma igreja que ficava bem próxima de casa. Tão próxima ela era e, no entanto, nunca havia entrado lá. Entrei e fui bem recepcionado por uma freira. Contei, com certo receio, meu estado a ela. Disse o que eu via e o que enxergava. Ela me indicou o padre da paróquia. Tive uma sucinta, porém benéfica conversa com ele. Pediu-me fé em nosso senhor Jesus Cristo. Alegou-me veementemente que eu poderia enxergar os vultos em minha casa. Bastaria ter fé e sensatez, que se fosse para eu enxergar aquilo, eu enxergaria. Mas se não fosse, pediu-me para sair de lá. Com uma candeia, ligado a fogo, pediu para que na hora do ruído eu fosse averiguar o que estava ocorrendo por lá. Rezou um credo para mim e me desejou paz no espirito.
Eu faria tudo aquilo, conforme ele me indicou.

As exato 23:30, enxerguei novamente o vulto passar rente a mim. Dessa vez eu senti um calafrio que jamais havia sentido antes. Meus pelos se arrepiaram causando um frio intenso que eu pensei que iria desmaiar. 

Parece que o mal sabia que eu o iria perseguir.

Após o medo se afastar de mim, persignei-me dez vezes. Senti que estava pronto para enfrenta-lo. Fui até a escada que dava acesso ao sótão e subi lentamente para não provocar ruídos. Meus pés tremiam e ameaçavam-se ceder. Apoiei-me vagarosamente no corrimão e fui subindo com um medo indizível.
Ao subir, percebi uma luz acesa, mas o padre advertiu-me: leve uma candeia, pois só a luz do fogo fará você enxergar.

Pus a candeia sobre a minha visão, como o padre me aconselhou, e ao ver sobre a luz da candeia, vi dois corpos simultaneamente colados. Estavam em estase e gemendo profundamente baixo.

Petrifiquei-me. Eu pude enxergar a minha esposa sendo possuída por um homem que desconheço a face.


Maldita perfídia. Maldita concupiscência.


Por Patrik Santos

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