A cegueira me atacou
quando eu tinha aproximadamente 33 anos. Foram nos meados dos anos 90.
A minha deficiência visual, não obstante, não era uma
cegueira total. Eu tinha uma pequena percepção da luz. Mas infelizmente meu
médico me alegou que eu a perderia também durante o tempo.
Eu sentia incomodar a minha esposa. Ela já não era mais a
mesma comigo. Nós não tínhamos nem um ano de casados e já brigávamos como se
tivéssemos dez.
Em minha casa, eu comecei a enxergar vultos passando de um
lado para o outro. Logo de princípio achei que estava ficando louco, mas
acreditem; eu não estava louco. Eu estava em minha plena consciência do que via
e ouvia.
No sótão, havia um constante ruído que me arrepiava. E não, não eram ratos. Eu sempre o escutava
após enxergar os vultos que me alucinavam. Minha esposa, no entanto, não ouvia
e nem enxergava nada. Dizia que era algo da minha cabeça.
Mas havia. Eu sei que havia.
Eu já estava ficando paranoico com aquilo. Á noite, deitado
em minha cama, eu os via passando de um lado para o outro. Não queria acordar
minha esposa. Ela não poderia ser cumplice da minha possível loucura. Após enxergar
aqueles vultos, eu ouvia novamente os
sons terríveis vindo do sótão. Era algo aterrorizador. A única coisa que
me restava a fazer era tapar os ouvidos para não escutar aqueles sons sombrios.
Na manhã seguinte eu contava a minha esposa. Ela me olhava
com desconfiança e dizia que iria me levar a uma clínica psiquiátrica. Ela
achava que eu estava enlouquecendo. Talvez. Mas novamente afirmo que não
estava. Aceitei ir para provar a ela que não estava.
Na clínica, fui dispensado pelo o psiquiatra. Ele
recomendou-me dormir mais e parar de fixar meus olhos na luz, coisa que de fato
eu fazia. Disse-me também para procurar uma igreja, pois a nossa alma também
precisa de conselhos. Disse a ele que pensaria no caso.
Em casa, novamente eu via os vultos e sucessivamente os
ruídos vindos do sótão.
Sim, eu precisava ir a uma igreja conversar com um padre ou
alguma pessoa santa.
Fui a uma igreja que ficava bem próxima de casa. Tão próxima
ela era e, no entanto, nunca havia entrado lá. Entrei e fui bem recepcionado
por uma freira. Contei, com certo receio, meu estado a ela. Disse o que eu via
e o que enxergava. Ela me indicou o padre da paróquia. Tive uma sucinta, porém
benéfica conversa com ele. Pediu-me fé em nosso senhor Jesus Cristo. Alegou-me
veementemente que eu poderia enxergar os vultos em minha casa. Bastaria ter fé
e sensatez, que se fosse para eu enxergar aquilo, eu enxergaria. Mas se não
fosse, pediu-me para sair de lá. Com uma candeia, ligado a fogo, pediu para que
na hora do ruído eu fosse averiguar o que estava ocorrendo por lá. Rezou um
credo para mim e me desejou paz no espirito.
Eu faria tudo aquilo, conforme ele me indicou.
As exato 23:30, enxerguei novamente o vulto passar rente a
mim. Dessa vez eu senti um calafrio que jamais havia sentido antes. Meus pelos
se arrepiaram causando um frio intenso que eu pensei que iria desmaiar.
Parece
que o mal sabia que eu o iria perseguir.
Após o medo se afastar de mim, persignei-me dez vezes. Senti
que estava pronto para enfrenta-lo. Fui até a escada que dava acesso ao sótão e
subi lentamente para não provocar ruídos. Meus pés tremiam e ameaçavam-se
ceder. Apoiei-me vagarosamente no corrimão e fui subindo com um medo indizível.
Ao subir, percebi uma luz acesa, mas o padre advertiu-me:
leve uma candeia, pois só a luz do fogo fará você enxergar.
Pus a candeia sobre a minha visão, como o padre me
aconselhou, e ao ver sobre a luz da candeia, vi dois corpos simultaneamente
colados. Estavam em estase e gemendo profundamente baixo.
Petrifiquei-me. Eu pude enxergar a minha esposa sendo
possuída por um homem que desconheço a face.
Maldita perfídia. Maldita concupiscência.
Por Patrik Santos
Por Patrik Santos
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