segunda-feira, 10 de junho de 2013

A Garota da Internet


Eu andava muito deprimido doutor, pois a minha namorada havia me traído com um cara que se dizia muito meu amigo. Flagrei-os justamente no ato do sexo selvagem que os dois praticavam. Eu nem sabia que ela curtia aquilo. É como dizem: "o corno é sempre o ultimo a saber."

Meus planos de felicidade com ela se dissiparam.

Passei dias sem me alimentar direito. A insônia foi a minha companheira por várias noites. Corpos estranhos, que eu jamais poderei explicar, se apossuíram de mim.

Sofri uma mutação devastadora.

Para me desvencilhar daquele espetáculo nada apreciador, eu comecei a usar a internet para amenizar o meu sofrimento. A recomendação viera de um amigo meu. A minha insônia, no entanto, só fez aumentar, pois eu ficava horas em frente ao computador conversando imoralidades e me masturbando só pelo o fútil fato de sentir prazer. Dias depois, eu excluía aquela pessoa e começava uma nova amizade. E assim sucessivamente. De fato aquilo estava me destruindo.

E foi quando eu a conheci, meu amigo. Ah, Linda! Olhos redondos como a de um desenho japonês, um sorriso daquele que não expõe os dentes, um rostinho de menina, porém o corpo já era de uma linda mulher.

Era uma garota perfeita para preencher a lacuna que me faltava.

Inteligentíssima! Ela me decifrou apenas pelo o seu vasto conhecimento de astronomia. Eu fiquei apaixonado por ela. Até fizemos sexo virtual. Chorava em minha cama quando ela não ligava a noite. Morava tão longe mim. Mas por morar tão longe assim, não deveria ter sumido. Ela me enviou um lindo pingente, a estrela de Davi. Adorei!

Um dia resolvemos nos encontrar. Marcamos no aeroporto, pois eu iria lhe apanhar. Ela não apareceu. Liguei para ela, mas deu número inexistente. Meu coração apertou meu peito a ponto de sufocar-me.
Fui para a casa. Entrei no meu computador para procurar o seu email e não encontrei. A sua rede social havia sumido. Pesquisei a nossa conversa gravada em meu computador e estranhamente não encontrei. Pus as mãos no meu pescoço para apalpar o meu pingente, e não senti. Estranho. Ela sumiu estranhamente de mim, amigo.

Todo aquele espetáculo, nada apreciador, voltou. Cheguei a pesar quarenta e cinco quilos. Perdi líquidos e mais líquidos por chorar incessantemente. Senti fortes dores no meu corpo. Minha cabeça flutuava. Parecia que ela não estava fincada em meu pescoço. Tentei todas as noites viajar para os braços dela através da viagem astral. Porém eu nunca a encontrava. Ela havia realmente sumido.

- O que você acha de tudo isso, doutor? – Perguntou deitado em um sofá da clínica o autor desta historia.

-  Você parece lúcido perante tudo o que diz. Mas você não mostra certeza em suas palavras. Você chega a hesitar sobre tudo isso que aconteceu com você.

O autor da historia parecia não entender nada no que o doutor lhe falava. Parecia que realmente a sua cabeça não estava fincada em seu pescoço.

- Você tem alguma prova que essa moça existiu? – Perguntou o doutor.

- Bom.. Nenhuma. As provas sumiram. – Respondeu o autor.

- Então prepare-se para o que eu vou lhe dizer, amigo. Relaxe e tente não se abater com o que será dito. Cheguei à conclusão de que esta moça não existe. Foi apenas uma criação do seu desespero de conhecer alguém. Ela é a sua criação, meu amigo. Ela não existe. Sinto muito! Casos como o seu são normais em minha clínica.

O autor desta historia colocou as mãos em sua cabeça e a sacudiu violentamente. Parecia não acreditar na mais pura verdade que o doutor lhe dizia.

“A solidão é uma forma de opressão. No meio de tantas pessoas supérfluas, acabei conhecendo uma pessoa perfeita. Essa pessoa, no entanto, não passava de uma criação da utopia do meu ingênuo desejo de apreciação e devoção.”

Quinze dias depois, o autor deste conto se internou na clínica com um avançado estado de loucura.


Por: Patrik Silva

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